O chimarrão é muito mais do que uma simples bebida quente ele é um símbolo de tradição, cultura e união entre os povos do sul do Brasil, especialmente no estado do Rio Grande do Sul. Com sua cuia, bomba e erva-mate, o chimarrão representa um verdadeiro ritual diário para milhões de brasileiros que encontram nele não só um sabor marcante, mas também um momento de conexão com a natureza, com os amigos e com a própria história gaúcha.
Originado dos povos indígenas que habitavam o território sul-americano muito antes da colonização, o chimarrão atravessou gerações e fronteiras, conquistando paladares dentro e fora do Brasil. Mas engana-se quem pensa que existe apenas uma maneira de saborear essa bebida tradicional. Hoje, o chimarrão ganhou novas versões, com toques criativos e ingredientes inusitados que transformam a experiência de tomá-lo em algo ainda mais especial.
Nesta jornada pelos sabores do sul, vamos te apresentar 10 receitas diferentes de chimarrão algumas com frutas, outras com especiarias e até combinações doces e refrescantes que prometem surpreender até os mateadores mais fiéis à tradição. Se você ama chimarrão ou está apenas começando a descobrir essa paixão, prepare a sua cuia, a água quente e venha explorar um universo de possibilidades onde o protagonista é sempre ele: o chimarrão.

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Chimarrão: A História, a Cultura, o Mercado e as Curiosidades Dessa Bebida Gaúcha que Conquistou o Brasil
A Origem do Chimarrão: Herança dos Povos Indígenas
O chimarrão, também conhecido como “mate”, tem raízes profundas na história da América do Sul, muito antes da chegada dos colonizadores europeus. Sua origem está diretamente ligada aos povos indígenas guaranis, que habitavam regiões que hoje compreendem o Paraguai, o norte da Argentina, o sul do Brasil e partes da Bolívia e Uruguai.
Para os guaranis, a erva-mate (Ilex paraguariensis) era uma planta sagrada. Eles a utilizavam em rituais religiosos, práticas medicinais e também como uma bebida cotidiana, sempre associada à união, ao respeito e à espiritualidade. A infusão feita com a erva moída e água quente era compartilhada em grupo, o que reforçava os laços comunitários.
A palavra “mate” vem do termo quíchua mati, que significa “cabaça” ou “recipiente usado para beber”, referindo-se à cuia utilizada para preparar e consumir a bebida. Já a palavra “chimarrão” vem do espanhol “cimarrón”, que significa “selvagem” ou “bravio”, aludindo ao costume rústico de consumir a erva sem açúcar, ao contrário do tereré (versão fria e adocicada) ou dos chás europeus.
A Idealização do Chimarrão pelos Colonizadores e Jesuítas
Com a chegada dos espanhóis e portugueses no século XVI, o hábito do consumo da erva-mate logo chamou atenção. Os padres jesuítas, especialmente, reconheceram o valor econômico e medicinal da planta e passaram a cultivá-la em larga escala nas missões jesuíticas da região sul.
Eles organizaram plantações sistemáticas da erva-mate e contribuíram para a difusão do chimarrão entre os colonizadores europeus. O chimarrão começou a ser consumido em diversos contextos: desde os salões das estâncias até as paróquias e povoados em formação.
Com o tempo, a bebida passou de um símbolo indígena para um elemento fundamental da identidade gaúcha, sendo apropriado culturalmente e se transformando em parte do imaginário coletivo do sul do Brasil.
O Chimarrão como Símbolo Cultural Gaúcho
Não é exagero afirmar que o chimarrão está para o sul do Brasil assim como o café está para Minas Gerais ou a feijoada para o Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, o chimarrão não é apenas uma bebida, mas sim um símbolo de identidade, orgulho e pertencimento.
Na tradição gaúcha, o chimarrão acompanha o dia a dia: é consumido logo pela manhã, após o almoço, ao final da tarde e até mesmo em reuniões de trabalho. É comum encontrar rodas de chimarrão entre amigos e familiares, onde a cuia é passada de mão em mão, respeitando uma ordem e um ritual silencioso de convivência.
O gaúcho tem um carinho especial por sua cuia, por sua bomba e pela erva que escolhe. Cada um tem seu “jeito de preparar o mate”, e há até quem defenda fervorosamente que existe uma “forma correta” de se servir.
O chimarrão também é parte fundamental das festas tradicionais gaúchas, como o Acampamento Farroupilha, as Festas Campeiras, os encontros de CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) e os desfiles de 20 de setembro. Em todos esses eventos, o chimarrão está presente como um elo entre passado e presente, tradição e modernidade.
A Trajetória do Chimarrão pelo Brasil
Embora tenha nascido no sul e sido firmemente adotado pelos gaúchos, o chimarrão expandiu seus domínios para outros estados do Brasil. Hoje, ele é popular também em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e até mesmo em partes de Minas Gerais e Goiás.
A migração de gaúchos para outros estados durante o século XX contribuiu enormemente para a difusão do costume de tomar chimarrão. Onde um gaúcho se estabelece, logo se vê uma cuia e uma garrafa térmica.
Nos últimos anos, o chimarrão também conquistou admiradores nas grandes cidades, especialmente entre aqueles que buscam um estilo de vida mais natural e conectado com tradições autênticas. Em praças de Curitiba, em cafeterias de Florianópolis e até em parques paulistanos, é comum ver pessoas com a cuia na mão.
Além disso, o movimento de valorização da cultura regional brasileira tem fortalecido a presença do chimarrão em espaços culturais, escolas e mídias. Ele deixou de ser visto apenas como algo “do interior” e passou a ser reconhecido como um verdadeiro patrimônio cultural do país.
O Impacto Econômico e o Mercado da Erva-Mate
O chimarrão movimenta um mercado robusto e em constante crescimento. A cadeia produtiva da erva-mate envolve milhares de famílias, especialmente nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Esses estados concentram a maior parte das plantações, colheitas e beneficiamento da erva-mate no Brasil. A produção é utilizada tanto para o chimarrão tradicional quanto para outros produtos, como tereré, chás, cosméticos, suplementos e até bebidas energéticas.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de erva-mate e exporta para diversos países, incluindo Uruguai, Argentina, Síria e Estados Unidos. A valorização da bebida como fonte de antioxidantes, vitaminas e energia natural também abriu portas no mercado internacional de produtos saudáveis e funcionais.
O setor de erva-mate representa milhões de reais por ano em faturamento, e sua cadeia de valor gera empregos diretos e indiretos em áreas rurais e urbanas. Desde pequenos produtores familiares até grandes indústrias de beneficiamento, o chimarrão é uma engrenagem essencial da economia sulista.
Curiosidades Sobre o Chimarrão
A seguir, algumas curiosidades fascinantes sobre o chimarrão que mostram o quanto essa bebida é rica em história e cultura:
- Bomba e Cuia: A bomba é o canudo metálico que permite beber o chimarrão sem engolir a erva. Já a cuia é feita tradicionalmente de porongo (um tipo de cabaça) e pode ser ricamente decorada com prata, couro e entalhes artesanais.
- Não se mexe a bomba: Em uma roda de chimarrão, nunca se deve mexer a bomba depois de ela ser colocada. É um gesto considerado deselegante e que pode desmanchar o “mate”.
- Um só gole? Não!: Quem recebe a cuia deve tomar toda a água do chimarrão até o barulho típico do fim da infusão o famoso “ronco do mate”. Só então a cuia é devolvida ao cevador (quem prepara o mate) para que ele sirva a próxima pessoa.
- Símbolo de Hospitalidade: Recusar um chimarrão em uma roda pode ser interpretado como um desrespeito, pois a oferta é um gesto de amizade e acolhimento.
- Saúde e Bem-Estar: A erva-mate é rica em vitamina C, complexo B, cálcio, magnésio, ferro e contém xantinas, substâncias que estimulam o sistema nervoso central, semelhantes à cafeína. Por isso, é energizante, diurética e digestiva.
- Símbolo Gaúcho Oficial: Em 2007, o chimarrão foi declarado Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul, reforçando seu status como símbolo máximo da tradição gaúcha.
Chimarrão na Cultura Pop e na Mídia
A presença do chimarrão vai além da tradição: ele aparece em novelas, filmes, documentários, propagandas e até memes da internet. Em obras como O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo e em novelas como A Casa das Sete Mulheres, o chimarrão é retratado como parte do cotidiano do sul.
Influenciadores digitais e canais de cultura regional no YouTube, como os ligados ao universo do “gaudério” e do campo, frequentemente mostram receitas de chimarrão, “dicas para cevadas perfeitas” e curiosidades que conquistam audiências de todas as idades.
Além disso, o chimarrão tem ganhado versões personalizadas em lojas especializadas: cuias customizadas, bombas com design moderno, ervas saborizadas com menta, laranja, gengibre e outros ingredientes naturais.
O Futuro do Chimarrão: Tradição e Inovação Caminhando Juntas
Mesmo com séculos de história, o chimarrão continua a se reinventar. As gerações mais jovens estão aprendendo a valorizar o hábito, seja por meio do contato com os avós, das redes sociais ou da crescente preocupação com a saúde e o bem-estar.
A inovação também tem espaço: marcas estão investindo em produtos orgânicos, ervas aromáticas, acessórios sustentáveis e até aplicativos que ensinam a cevar um bom mate.
Ao mesmo tempo, movimentos culturais seguem defendendo a preservação da forma tradicional de preparo e consumo, reforçando a identidade que o chimarrão carrega.
O equilíbrio entre tradição e modernidade é o que garante que o chimarrão continue sendo relevante, não apenas no sul do Brasil, mas em todo o território nacional e, quem sabe, em muitas outras partes do mundo.
Muito Além de uma Bebida
O chimarrão é, acima de tudo, um símbolo vivo de cultura, identidade, memória e afeto. Ele nos conecta ao passado indígena, à formação das tradições gaúchas, aos laços familiares e comunitários e à natureza abundante da América do Sul.
Sua trajetória revela não apenas a força de um hábito ancestral, mas também sua capacidade de atravessar o tempo, as fronteiras e as gerações. Seja em uma roda de amigos no campo, em uma sala de aula, em uma praça urbana ou em um evento cultural, o chimarrão segue firme quente, amargo, verde e acolhedor.
10 Receitas Diferentes de Chimarrão: Sabores e Experiências para Todos os Gostos
O chimarrão, bebida símbolo da cultura gaúcha e sul-americana, vai muito além da tradicional erva-mate com água quente. Ao longo do tempo, diversos apreciadores foram criando variações dessa infusão que unem tradição, sabor e criatividade. Nesta coletânea, apresentamos 10 receitas diferentes de chimarrão, com ingredientes, modo de preparo e porções para você surpreender no seu próximo mate!
1. Chimarrão Tradicional Gaúcho
Ingredientes:
- 1 cuia média
- 1 bomba de inox ou prata
- 3 colheres (sopa) de erva-mate (aprox. 50g)
- 300 ml de água quente (não fervente, cerca de 70°C)
Modo de Preparo:
- Coloque a erva-mate em uma lateral da cuia, inclinando levemente para formar o “monte”.
- Tape o topo com a mão e agite para concentrar o pó fino do outro lado.
- Posicione a bomba no espaço livre.
- Despeje a água quente lentamente.
- Aguarde a erva absorver a água e tome o chimarrão.
Porções: 1
2. Chimarrão com Hortelã
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- 5 folhas de hortelã frescas
- 300 ml de água quente (70°C)
Modo de Preparo:
- Pique levemente as folhas de hortelã e misture com a erva-mate antes de colocá-la na cuia.
- Monte a cuia normalmente e adicione a bomba.
- Complete com água quente.
Porções: 1
3. Chimarrão com Erva-Doce e Canela
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- 1 colher (chá) de sementes de erva-doce
- 1 pedaço de canela em pau pequeno
- 300 ml de água quente (70°C)
Modo de Preparo:
- Misture a erva-mate com a erva-doce.
- Coloque na cuia e acrescente a canela em pau no fundo.
- Posicione a bomba e adicione a água quente.
Porções: 1
4. Chimarrão Cítrico
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- Raspas de limão ou laranja (½ colher de chá)
- 1 rodela fina de limão (opcional)
- 300 ml de água quente
Modo de Preparo:
- Misture as raspas à erva-mate.
- Coloque na cuia e monte como de costume.
- Posicione a bomba e despeje a água.
- Decore com uma rodela de limão.
Porções: 1
5. Chimarrão com Leite (Mate Leiteado)
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- 300 ml de leite quente (70°C)
- Açúcar ou mel a gosto (opcional)
Modo de Preparo:
- Monte a cuia com a erva-mate normalmente.
- Aqueça o leite (sem ferver).
- Adicione açúcar ou mel se desejar.
- Despeje o leite quente na cuia e sirva.
Porções: 1
6. Chimarrão com Gengibre e Mel
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- 1 colher (chá) de gengibre fresco ralado
- 1 colher (chá) de mel
- 300 ml de água quente (70°C)
Modo de Preparo:
- Misture o gengibre ralado à erva-mate e monte a cuia.
- Coloque a bomba e adicione a água quente.
- Acrescente o mel na primeira ou segunda adição de água.
Porções: 1
7. Chimarrão com Camomila
Ingredientes:
- 2 colheres (sopa) de erva-mate
- 1 colher (sopa) de flores secas de camomila
- 300 ml de água quente (70°C)
Modo de Preparo:
- Misture a camomila com a erva-mate e coloque na cuia.
- Monte normalmente e adicione a bomba.
- Despeje a água quente com cuidado.
Porções: 1
8. Chimarrão com Menta e Chocolate
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- 1 colher (chá) de cacau em pó
- 4 folhas de hortelã
- 1 colher (chá) de açúcar mascavo (opcional)
- 300 ml de água quente (70°C)
Modo de Preparo:
- Misture o cacau com a erva e adicione as folhas de hortelã.
- Monte a cuia normalmente.
- Coloque a bomba e adicione a água quente.
Porções: 1
9. Chimarrão Refrescante com Capim-Limão
Ingredientes:
- 3 colheres (sopa) de erva-mate
- 1 colher (sopa) de capim-limão seco ou fresco
- 300 ml de água quente
Modo de Preparo:
- Misture o capim-limão à erva-mate.
- Prepare a cuia e adicione a bomba.
- Complete com água quente e sirva.
Porções: 1
10. Chimarrão com Ervas Relaxantes (Lavanda e Melissa)
Ingredientes:
- 2 colheres (sopa) de erva-mate
- ½ colher (chá) de flores secas de lavanda
- 1 colher (chá) de folhas secas de melissa
- 300 ml de água quente (70°C)
Modo de Preparo:
- Misture todas as ervas antes de colocar na cuia.
- Monte a cuia como de costume.
- Coloque a bomba e adicione água quente.
Porções: 1
Dicas Finais:
- Sempre respeite a temperatura da água (entre 60°C e 75°C) para evitar queimar a erva-mate.
- Lave bem a cuia e a bomba antes e depois do uso.
- Use erva-mate fresca e armazene-a em local seco e fechado.
- Experimente as combinações com moderação até descobrir seus sabores preferidos.

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Chimarrão: Uma Tradição que se Reinventa a Cada Gole
O chimarrão é muito mais do que uma simples bebida quente. Ele é símbolo de hospitalidade, cultura, identidade e afeto. Está presente em rodas de conversa, em manhãs silenciosas de reflexão, nas caminhadas matinais de quem carrega sua cuia com orgulho e, claro, nas mais profundas tradições dos pampas.
Ao conhecer e experimentar essas 10 receitas diferentes de chimarrão, percebemos que mesmo uma prática tão antiga e enraizada pode se abrir ao novo sem perder sua essência. As combinações com hortelã, gengibre, lavanda, chocolate, leite e ervas variadas são formas criativas de dar novos significados à mesma tradição, agradando a diferentes paladares e explorando os benefícios de cada ingrediente.
Cada receita aqui apresentada tem algo especial: um toque de sabor, um cuidado com a saúde, ou mesmo uma homenagem ao ritual que une amigos e famílias em torno da cuia. Seja o chimarrão tradicional, simples e direto, ou uma versão mais aromática e moderna, o importante é manter vivo o espírito dessa bebida que representa muito mais do que um hábito e representa um estilo de vida.
Então, da próxima vez que for preparar seu chimarrão, que tal ousar e escolher uma dessas variações? Afinal, o melhor chimarrão é aquele que aquece o corpo, alimenta a alma e carrega história. E como toda boa tradição, ele pode e deve ser reinventado com amor, respeito e criatividade.
Sirva, compartilhe, descubra. O mundo do chimarrão é vasto e cabe dentro de uma cuia.